Mercenário

Ele olha as luzes apagadas da cidade. Aquela aparente tranqüilidade lhe incomoda. Não era uma situação completamente nova. Já havia participado de muitas batalhas iguais àquela, sabia o que esperar. Ele olha a sua volta em busca de rostos conhecidos. Não há. Sente a concentração e um peso no ar. Ouve conversas a suas costas. Ainda não está à vontade, olha para suas mãos, para seu uniforme, não se reconhece nestas novas cores.

Os comandos de seus antigos generais ainda martelam sua cabeça: "Amigos! O passado já era." O passado já era... Ainda não consegue ver as cores que um dia ajudou a erguer. Mas ele sabe que elas estão lá. Procura por entre as montanhas, consegue sentir sua presença, mas não as vê. Sim, eles estão lá, preparando suas armas. O campo ainda é o mesmo, o alvo também é o mesmo. Mas as cores não são. Não são só elas que são outras. Ele já não é mais o mesmo. Sua sede por conquistas aumentou.

Sente um calafrio. "Engraçado, não está tão frio". Olha novamente a sua volta, todos esperam o sinal da corneta. Acaricia seu novo cavalo: "Quantas batalhas ainda travaremos juntos?" Segura com firmeza suas novas armas. Olha, agora, além das montanhas, afasta antigas lembranças balançando a cabeça. Sem hesitar, precipita às ordens de ataque, grita expulsando para fora todos os fantasmas do passado. Parte em disparada para a cidade indefesa. Os fantasmas são silenciados pelos gritos dos que o seguem. "Será que deram o sinal?" Agora, não importa mais. Para tudo na vida há uma solução.

2 comentários:

redatozim disse...

Muito bom, Edu, é parte de algo maior ou basta-se em si?

Eduardo César e Melo disse...

Que nada. Por enquanto é apenas um pequeno exército embriagado por uma boa dose de boa-vontade misturada com ambição.