Café com Arte

Não há mistério em fazer um café expresso na máquina. Basta colocar a quantidade de pó ou grãos indicada pelo fabricante, a quantidade de água, que também é indicada, e esperar.

Joãozinho estava no shopping com sua mulher quando resolveram tomar um café. A cafeteria é nova, o ambiente é bacana e o nome, sugestivo. Pediram dois cafés expressos. Assim que a atendente levou os cafés para mesa, sua mulher, ao olhar, percebeu que eles estavam aguados. A atendente concordou e foi trocar o café. Ao voltar e colocar as novas xícaras na mesa, a atendente falou: "Nossa" e recolheu os cafés, que também estavam aguados. Mais uma tentativa, e desta vez ela consegue 50% de acerto. Um café estava escuro, o outro... bem, o outro foi novamente retirado assim que chegou à mesa sob os olhares espantados do casal. Pouco depois, aparece a atendente com o sorriso de dever cumprido. "Agora sim, este café está bom."

Café com Arte: a arte Joãozinho até entendeu, mas achou que café não tem nada haver com a empresa.

Nascido para vender

Meu primeiro empréstimo, provavelmente, foi o melhor negócio da minha vida. Na época, a inflação era galopante, os preços eram remarcados quase todos os dias. Não tínhamos a menor noção dos preços dos produtos.

Conversando na cantina do colégio, descobri que poderia usar o esquema da cardeneta. Além de não enfretar fila no caixa, os lanches eram anotados, e eu só pagaria no começo do próximo mês. O melhor da história, e que na época eu não tinha a menor idéia, era que ao invés de anotarem um pastel e uma coca, eles anotavam o valor dos produtos no dia. Quando chegava a conta, o valor que eu pagava já não era suficiente para pagar tudo o que eu havia consumido.

Contando isso para meu irmão, descobri que ele foi ainda mais longe. Além de comprar da mesma maneira, ele revendia lanches para seus amigos que, assim, também não pegavam fila. O detalhe é que ele recebia à vista e gastava o dinheiro no mesmo dia para comprar outras coisas. Um negócio da China, pegava um empréstimo mensal sem juros e de quebra, ainda fazia média com a galera na escola.

Ruim com ela...

O sonho de cada produto ou serviço é se tornar essencial e insubstituível. Resolver problemas, satisfazer desejos ou mesmo preencher lacunas. Alguns conseguem essa proeza completando todos os requisitos de qualidade, outros, apenas por serem os únicos disponíveis no momento.

Joãozinho, havia um tempo, não estava satisfeito com serviços de sua diarista. A casa não estava tão limpa, a roupa não estava bem passada e vez ou outra encontrava alguma coisa quebrada. Percebeu que estava reclamando sempre do serviço prestado e que não valeria mais a pena continuar com ele.

Não demorou muito para perceber que, após tomar essa decisão, ele dobrou seus problemas. Além de continuar reclamando, agora também tem que fazer os serviços.

Mas, qual é mesmo o seu nome?

Nome é a primeira decisão importante que fazem por você. Ele pode não garantir um bom futuro como o sobrenome, mas pode ser decisivo para sua sobrevivência às piadinhas dos colegas no jardim de infância. Alguns são perpetuações de nomes familiares, outros são pura falta de bom senso mesmo.

Joãozinho estava em Portugal com a família. Achou que não seria um grande problema pedir para seu irmão caçula comprar uma garrafa de água mineral. Afinal de contas, falamos o mesmo idioma. Poucos minutos depois, o caçula volta segurando a compra. "Quase que comprei uma garrafa mais cara. Fui pegar a que tinha menos unidades porque achei que seria a melhor. Mas aí, quando estava saindo, vi uma que era um terço do preço. A prateleira estava lotada, ninguém a comprava não sei porque". Já imaginando que algo poderia ter dado errado, Joãozinho retira a garrafa da sacola.


A água fez jus ao nome, mas só matou a sede.

E o tempo passa.

Bem afortunadas são as salas de espera que possuem não só um sofá confortável como também exemplares recentes das mais diversas revistas. E que tiveram a sorte de abrigar secretárias gentis e educadas.

Desafortunadas são as salas sem conforto. Malditas aquelas que não têm revistas recentes. E bem castigadas as que possuem secretárias que gritam sem parar ao telefone. Atormentando a cabeça de seus vistantes. Essas salas, sim, merecem a pena que lhes foi imposta.

Mal sinal

Nada como visitar o primeiro templo do consumo de Belo Horizonte para distrair e colocar a cabeça no lugar. Porém, em plena sexta-feira, além de não haver nenhum filme que conquistasse minha atenção, havia sinais de algo inquietante. Nada menos do que 29 lojas fechadas com tapumes.

Está certo que havia meia duzia delas em reforma, mas já não podemos ignorar mais os sinais dos Deuses. Quando acabei a contagem, a imagem de Regina me revelou: "Eu tenho medo".

Que não seja em vão

Sacrificio, um esforço estraordinário, voluntário ou não, em prol de um ideal. Seja para acalmar a ira dos Deuses, ou para conseguir uma graça, ele é um dos artifícios ainda usados com sucesso para a conquista de um objetivo. Embora pareça cruel para as vítimas, ele geralmente visa o bem coletivo.

Usado como justicativa para guerras, é quase sempre invocado em momentos de crise. Quando produz resultados satisfatórios, eterniza o esforço daqueles que deram o sangue por seu ideal. Mas quando não é suficiente, ficam os lamentos de que algo poderia ter sido diferente.

Abrindo portas

Sempre achei as propagandas de cartão de crédito com conceito "portas se abrindo para você" um pouco exageradas. Talvez, por pura ingenuidade, imaginava que qualquer cliente, desde que pudesse pagar pela mercadoria, seria sempre bem atendido. Realmente não colocava tanta fé na força de um pedacinho de plástico que faz não só com que as portas de estabelecimentos se abram literalmente, mas também as de um país.

Joãozinho estava com sua mulher na fila destinada ao resto do mundo da alfâdenga inglesa. Ser designado para a parte dos que sobraram já não é muito confortável, embora seja compreensivo. Até que, enfim, chega a hora da sabatina. Um indiano sem expressão e sem energia dispara sua metralhadora de perguntas sem ao menos levantar a cabeça: É a primeira vez que visitam a Europa? Onde estão os vistos das outras viagens? Passaporte novo? Vocês estão com o antigo? Com o que você trabalha? E você, é publicitária também? Onde ficarão? Deixe me ver a reserva do hotel? Posso ver também as passagens para Portugal? Quantos dias vocês ficarão? Quantas libras vocês têm? Ao ouvir a resposta, o indiano levanta a cabeça e olhando pro Joãozinho pela primeira vez. E dispara um tiro certeiro: só isso? Mas vocês têm cartão de crédito, não têm?

O impacto foi forte, aquela pequena fortuna que o casal levava parecia não significar nada para seu carrasco. Meio atordoado e já com poucas esperanças de sair ileso do tiroteio, Joãozinho contra-ataca. Sim Visa, Amex... Você disse Amex? Revidou o atirador indiano já com um sorriso confiante da vitória. Sim... foi a única coisa que o abatido Joãozinho conseguiu pronuciar antes de escutar os dois estampidos de misericórdia. Abrindo os olhos percebeu que os tiros não eram direcionados a ele. A cavalaria americana chegou de surpresa e com, toda sua eficiência, eliminara o indiano enquanto abria as portas da ilha.