Ao longo da história, o homem buscou a cura de seus males não só pela da ciência, mas também pelo misticismo. Sem contar com os poderes divinos, na ausência de um médico, não custa apelar para pagés, magos, videntes e curandeiros. Se bem que pode custar um bocado. Não só de grana, mas de histórias.
Conversando com seu dentista, Joãozinho comentou sobre a gastrite que o estava incomodando. O dentista recomendou uma médica ortomolecular muito boa que havia curado seu filho.
- Meu filho estava sempre doente, médico nenhum sabia o que ele tinha. Aí essa médica detectou, por meio de um aparelhinho, que ele estava com um verme no fígado. Passou uns remédios e ele está curado.
Confiando na recomendação do dentista, Joãozinho ligou para a médica. Chegando lá, estranhou a casa. Uma casa normal, sem placa e com alguns idosos conversando no jardim. Aquilo parecia mais um asilo do que um consultório. Tocou a campanhia, e descobriu que era lá mesmo. A dra. lhe atendeu toda sorridente.
- Dra., boa tarde...
- Não me chame de doutora, eu sou terapeuta. Deite aqui, meu filho, que eu vou acabar de conversar com o pedreiro e já volto.
Sem entender muito bem, Joãozinho deitou numa cama elétrica massageadora que mais fazia barulho do que massagem. E ficou pensado se seria uma sessão de análise ou o quê. Antes de ele chegar a uma conclusão, chegou foi um cara no consultório com um aparelho que parecia um rádio amador e foi logo perguntando:
- E aí, veio fazer o teste?
- Eh... eu acho que não...
- Acho que sim...
Nisto a "terapeuta" volta e pede para Joãozinho sentar e colocar a mão neste aparelho. A jeringonça tinha dois medidores de corrente e dois fios. Um que conecta em um vidrinho e outro que se conecta num objeto no formato de caneta que era pressionado na mão do Joãozinho.
- Neste vidrinho tem um tipo de verme morto, quando o marcador não se altera, você está limpo. Se ele mecher, você está com este verme. Explicou o sujeito.
- Mas como este aparelho vai detectar alguma coisa através deste vidro de água?, perguntou Joãozinho.
- Simples, pelos meridianos da acupuntura, ele detecta a energia do verme e compara com o do vidrinho.
Já desconfiando que a furada que se meteu era maior que imaginava, Joãozinho se submeteu ao "teste". O cara apertava a caneta nos meridianos da mão do Joãozinho, trocava o vidrinho e o marcador apontava a variação energética dos vermes enquanto o sujeito descrevia todos os nomes que Joãozinho alguma vez já tinha ouvido em aulas de biologia. No meio da troca dos frascos de água com os verme, a terapeuta fazia perguntas.
Acabado o teste, e sem ao menos perguntar porque Joãozinho estava lá, a terapeuta pega um frasco de óleo de gergelim e entrega para Joãozinho pingar nos olhos. Enquanto isso, o sujeito diagnósticava a flora de vermes que estava provocando uma série de males no João - males que ele nem ao menos tinha percebido.
- A giardia está provocando artrose. Você deve estar com as juntas doloridas.
- Não estou não.
- Mas ela está no seu fígado, deve ser então por que você se exercita.
- Mas eu me exercito. E como você sabe que há uma giardia no meu fígado? Como este aparelho mostra a localização do parasita se a variação do marcador foi a mesma em todos os frascos?
- A gente sabe pela energia, respondeu.
E já emendou outro diagnóstico e passou uma infinidades de remédios que só poderiam ser encontrados numa farmácia na próxima esquina (um amarzém que também tinha uma placa de drogaria).
Saindo de lá, Joãozinho depositou o óleo de gergelim na caçamba em frente à casa e ligou para contar a história para uma amiga que, além de médica, também é acupunturista. Depois de 5 minutos de gargalhadas, a amiga só conseguiu dizer:
- E ela ainda pôs a pobre da acumputura no meio.
E se foram mais 5 minutos de gargalhadas.
Depois de "serem detectadas" uma série de parasitas em seu corpo, Joãozinho não teve dúvidas em reconhecer que ao menos um estava ali. Olhando para ele pelo retovisor do seu carro.
Uma enorme topeira que estava escondinda e que agora também ria dele.