Que país é este?


A primeira reação da maioria dos meus colegas do curso de inglês quando mencionava que era brasileiro era soltar um "Wow!". Não era um wow de admiração, mas de "cara, você veio de muito longe" (o curso era em Londres). Sim, além dos estereótipos de país da violência, do futebol e do carnaval, nós somos de uma terra distante e desconhecida. Um lugar que, para se chegar, deve-se sobrevoar muitas e muitas horas o oceano. 

Não somos completamente ignorados: eles sabem que a capital é Brasília, já ouviram falar de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Pelé e de Lula. Um italiano até conhecia o Cruzeiro. "The blue team from São Paulo", ele falou com um sorriso.

Mas somos completamente desconhecidos a ponto de uma iraniana demonstrar, apenas com uma pergunta, que todo o esforço do nosso ex-ministro de Relações Exteriores em se aproximar do Irã foi completamente em vão:  "Por que você está fazendo aula de inglês? Lá na América vocês todos não falam inglês?". A pergunta soou como uma bomba. Pelo menos ela sabia que o Brasil ficava na América. Mas para evitar qualquer equívoco de endereço, expliquei que não éramos parte dos Estados Unidos da América. A América que fala inglês fica ao norte, o Brasil está ao sul, bem longe. 

E as perguntas continuaram:
- Vocês também têm engarrafamento no Brasil?
Infelizmente. 
- Você vive perto de uma floresta?
Não e nunca visitei uma. 
- Não é verdade que, no Brasil, as mulheres são todas mulatas por causa do sol?
É claro que não. 
- Qual é o nome da sua moeda?
Real.
- Me fale um gênio brasileiro que você admira?
Hum..., só me recordo de gênios do esporte. (Lá, Santos Dumont não é considerado o inventor do avião).
- Você não parece ser um brasileiro, e sim um turco, falou novamente a iraniana. Antes de eu poder perguntar para ela como seria um brasileiro, o professor achou melhor mudar o assunto da aula. 

Não sei se, em duas semanas de convivência, meus 11 colegas conseguiram conhecer um pouco mais sobre o Brasil. Mas duas semanas depois, eu descobri - em Istambul - que pelo menos em uma coisa a iraniana estava certa: eu tenho cara de turco.

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